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sábado, 19 de janeiro de 2013

Ao pequeno Guerreiro Silas


Hoje abriremos espaço para mais uma homenagem! O nosso guerreiro de 2 anos, o Silas, portador de MPS, faleceu esse mês e publicaremos uma linda carta que seu médico e padrinho, Dr. Charles escreveu.Silas lutou muito pela vida, tentou de tudo! Seus pais já haviam perdido a Letícia, de 1 ano e 10 meses há alguns anos atrás. Tentaram novamente e tiveram o Silas. Após um transplante de medula em agosto, Silas não aguentou mais tanta luta e veio a falecer em janeiro. Infelizmente, nosso exercito de guerreiros está muito grande lá no Céu. Lutamos muito, brigamos muito, mas nem sempre só a nossa luta é o suficiente. Precisamos da sua ajuda! Abraços Silas, reze por nós aí do Céu e ilumine os passos de todos que continuam nessa luta pela VIDA!

Por Dr. Charles Marques Lorenço

Ao Pequeno Guerreiro-Imperador, Silas

“Ah! quando a vez primeira em meus cabelos

Senti bater teu hálito suave:

Quando em meus braços te cerrei, ouvindo

Pulsar-te o coração divino ainda;

Quando fitei teus olhos sossegados,

Abismos de inocência e de candura,

E baixo e a medo murmurei: meu filho!”

(Fagundes Varela em “ O Cântico do Calvário”)

Eu te conhecia antes de você nascer, acho que também fui a 4a pessoa que você viu – enquanto berrava fortemente logo após nascer. Sua mae me dizia “ é um menino bravo”, na minha leitura, não, era um forte, um guerreiro se apegando à vida desde o primeiro instante, era você, Silas, ainda tonto das primeiras luzes do centro obstétrico, talvez com um pouco de frio, mas não medo, nunca vi em teu olhar medo. Para mim, você era a síntese da vida, mesmo com uma doença que poderia afetar tanto sua vida…

Silas, teu nome já indica tanta força, é aquele que vem “ da floresta”, em algumas traduções, significa “imperador da floresta”, em outras o que tem a força “da madeira”, Silvanus em algumas línguas, Sylvian, Sílvio, Silvano, são tantos os nomes os teus, Silas, todos eles pouco podem falar de ti, como nós o conhecemos. Se tens a força de um imperador, isso já o sabíamos, desde o teu primeiro grito de vida – já sabias que a luta seria diária em tua vida e, mesmo assim, tu reverberas em vida, como um pequeno rei da selva. Nas leituras bíblicas, Silas é também aquele que acompanha Paulo em diversas viagens de catequese, muitas cercadas de perigo e desafios; foste também um pequeno de viagens, muitas curtas entre tua cidade e Ribeirão; outras mais longas – e de sua última viagem retornaste apenas para o descanso Eterno. Foi tão rápido, pequenino, que não tive tempo de ver-te ou dizer-te as últimas palavras, o que tento fazer agora, pois há tanto que eu gostaria de Ter visto, Silas…Não pude ver-te andando na bicicleta, aprendendo a falar frases, seu primeiro caderno da escola, sua primeira briga com os colegas, com direito a escoriaçoes, mas feliz por não Ter “levado desaforo para casa”

Não, Silas, não pude te ver crescer e se apaixonar, ter seu coração partido por alguma garota a desdenhar de teu amor, mas voltar a apaixonar-se, amar, casar, ter filhos. Era tudo que eu lhe desejava, ver-te feliz e ter a chance de uma vida como a de tantos outros, bela na simplicidade aparente do dia-a-dia. Sim, eram muitos sonhos para ti – e , hoje, no dia do meu aniversário, apenas pediria que estivesses aqui comigo, conosco, com teus pais… Não fui agraciado com esse presente, apesar de saber-te conosco, pois , nas palavras do Manuel Bandeira , “Veio o mau Destino e fez de mim o que quis”.

Levado tu foste de nosso convívio e não há palavras para descrever tamanha dor que a perda provoca, é como ter a alma sugada, devassada em solidão, é mais do que perder metade da alma, parece que é perder toda ela. ‘È tornar-se o eco das tristezas todas, o lago escuro onde o clarão dos fogos tormenta”.

Ainda não consigo crer que foste, mas preciso fazê-lo, pois temos também de prosseguir na jornada – o que me conforta é que nunca estarás , de fato, longe de nós, como escreveu o poeta Fagundes Varela:

“Como eras lindo! Nas rosadas faces

Tinhas ainda o tépido vestígio

Dos beijos divinais, – nos olhos langues

Brilhava o brando raio que acendera

A bênção do Senhor quando o deixaste!

Tu me falas

Na voz dos ventos, no chorar das aves,

Talvez das ondas no respiro flébil!

Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?

No vulto solitário de uma estrela.”

È assim que quero te ver, brincando no céu das crianças, lá não há limitaçoes ou doenças , muito menos mucopolissacaridoses ou qualquer outra doença genética; lá, há apenas as alegrias e o dia nunca acaba – lá, sei que brincarás o dia todo e darás risadas, pois sempre foste uma criança marota. Sei que , de lá não te vás a esquecer de nós que ficamos e te pranteamos. Sei que nos olha agora, curioso, vendo a todos nós reunidos em teu nome, mas sei que voltarás a brincar nos Jardins do Infinito, pois tens agora a tão desejada paz dos inocentes…

De tudo que aprendi nessa vida, Silas, aprendi que por mais forte que sejam a morte e a saudade, elas nunca serão mais fortes que o amor e o amor faz a morte empalidecer e perder o sentido, porque cá estamos nós, unidos nesse amor, que é também formado de lembranças tuas. Estaremos aqui, testemunhas em carne e espírito de ti , plenos na certeza de que de que nosso amor por ti fazem da morte um triste detalhe, incapaz de ser mais forte do que o que sentimos e sentiremos por você. E que o tempo pode teimar em arrefecer, mas que não vencerá – por mais forte e temerário que seja o tempo – porque teu exemplo de guerreiro vive em nós. Estou certo de que sempre estarás conosco , pois o amor é o arauto da existência, não a morte; da mesma forma que sinto que a vida triunfa sobre as incertezas da morte e que já és parte perene de todos nós como o sol é filho da noite, sempre a se reerguer, renascer para iluminar mais um dia.

Do seu “padrinho” de coração, em nome de todos que cuidavam de ti nessa tua breve passagem por nossas vidas…nunca te esqueceremos..

http://dudueamigos.com.br/

 





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